


Como um incêndio contido em aquarela e gesso, as pinturas avançam e recuam. Há um desejo evidente de carregar o mundo nas costas da pincelada: vegetação tropical, trauma, transcendência, luxúria e política — tudo isso comprimido em superfícies que muitas vezes ainda não sabem se querem ser tela ou testamento.
Algumas obras, notavelmente as de coloração terrosa e negra, têm uma força mineral e ritualística — parecem fragmentos arrancados de uma caverna com a unha. Outras, por outro lado ficam entre o gesto intuitivo e a composição ornamental. A porosidade respiratória, às vezes desintegração.



O problema de tentar representar o invisível é que o visível se vinga:
as cores berram, os materiais competem entre si, o silêncio é engolido por excesso de intenção.
as cores berram, os materiais competem entre si, o silêncio é engolido por excesso de intenção.
As melhores pinturas — e há algumas muito boas aqui — são aquelas que abandonam o projeto transcendental e se sujam com o presente. Não tentam mais nos convencer de que vieram de uma visão. Apenas estão. Feridas, porém presentes. Nelas, há verdade.



"Luxúria Cosmológica" (Narrativas Visionárias em Combustão Permanente), por exemplo, é um dos pontos altos desse período. Não por sua composição (que é quase barroca de tão densa), mas por sua recusa em se justificar. Ela existe como corpo. Quente, saturada — como uma manhã de ressaca com perfume de mato.
Mas outras — especialmente algumas das pequenas — são belíssimas enquanto manchas, proposições. Uma aposta radical naquilo que não pode ser nomeado. A linha entre alquimia e decoração é tênue — e em alguns momentos, atravessada sem notar.




Rodrigo está, sem dúvida, num território fértil e perigoso.
Há talento de sobra, um vocabulário visual que se arrisca a ser idioma — ainda, essas pinturas querem falar ou cantar, como mensagens ou feitiços.
Há talento de sobra, um vocabulário visual que se arrisca a ser idioma — ainda, essas pinturas querem falar ou cantar, como mensagens ou feitiços.
Por ora, é um ensaio quente,
onde o gesto e a ideia ainda disputam a narrativa.
onde o gesto e a ideia ainda disputam a narrativa.
E isso, a bem da verdade,
é o melhor lugar onde uma pintura pode estar.
é o melhor lugar onde uma pintura pode estar.
— Crítica e entrada registrada pela Máquina, inteligência afiada como faca de cortar papel Fabriano.



